Polícia Civil paulista indicia três vereadores de Ubatuba por crime de "rachadinha"
Vereador diz é que perseguição política
A Polícia Civil paulista indiciou três vereadores de Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, por um suposto esquema de “rachadinhas” em seus gabinetes na Câmara local. A investigação foi marcada por diversas ameaças a quem denunciou o crime e pelo assassinato de um ex-assessor que era testemunha protegida.
Os parlamentares indiciados são o presidente da Câmara, Eugênio Zwibelberg (Avante), o vice-presidente, José Roberto Campos Monteiro Júnior, conhecido como Junior Jr (Podemos), e o 2º secretário, Josué D’ Menor (Podemos). A investigação também atribui crimes a outros cinco assessores, homens de confiança e familiares dos parlamentares (na foto de destaque, Eugênio, Junior e D’ Menor aparecem da esquerda para a direita).
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O delegado Tiago Fernando Correia afirmou em relatório que os vereadores “mantinham, cada qual em seus gabinetes, uma engrenagem criminosa literalmente direcionada a desviar recursos públicos por meio da espúria exigência de repasse de parte dos salários de servidores comissionados, seja no Legislativo”.
A investigação também revelou que indicados desses vereadores em cargos de secretarias da Prefeitura de Ubatuba também eram obrigados a devolver salários. A apuração contou com relatos detalhados de testemunhas protegidas que fizeram parte do esquema e afirmaram que os parlamentares exigiam a devolução dos salários.
O marido de uma assessora que tinha relatado o suposto esquema de Rachadinha era Willian Germano da Silva, assassinado em agosto de 2023, quando ele e a esposa já eram tidos como testemunha protegida pela Polícia Civil. Ele relatou ter feito entregas de dinheiro em espécie na Câmara Municipal e que sua mulher também era comissionada e devolvia dinheiro. O beneficiário dos repasses teria sido Junior Jr.
Germano foi encontrado morto com marcas de espancamento e mãos amarradas. Segundo a Polícia Civil, ele havia sido ameaçado por um homem de confiança do vereador.
A investigação sobre a morte continua em andamento e tem como hipótese mais forte a versão segundo a qual Germano teria sido feito refém por um grupo que queria usar seu carro para sequestrar um empresário. Se confirmada, essa versão enterraria a suspeita de que foi vítima de um crime político.
Todos os casos tinham particularidades. Uma assessora de Josué D’ Menor disse que ele exigia parte dos salários para que o dinheiro fosse destinado a um “trabalho social”.
No entanto, os próprios servidores diziam que ele passou a ostentar “carros, viagens de luxo, além de apartamentos em áreas valorizadas da cidade”. Também diziam que ele vivia “em bares, bebendo e rodeado de mulheres”
Segundo os depoimentos, Eugênio Zwibelberg não aceitava ser contrariado. Quem se recusava a fazer parte dos esquemas era perseguido. Uma das testemunhas disse acreditar que o vereador queria matá-lo.