Política

Crime político? Ubatuba vive clima tenso, com prisões, tramas e especulações envolvendo o assassinato do motorista Willian Germano

Com dois suspeitos presos, hoje (29 de agosto) outro homem se apresentou espontaneamente na delegacia como sendo o executor do assassinato

Marcos Limão | Data: 29/08/2023 22:36

O clima anda pesadíssimo em Ubatuba. O assassinato  brutal do motorista de aplicativo WILLIAN GERMANO - encontrado no dia 17/08/2023, por volta das 13h30, na beira da Rodovia BR 101, próximo ao Km 42+500, em meio ao matagal, ao lado do acostamento da pista, amordaçado, com os olhos vendados e com mãos e pés amarrados com fita adesiva e a cabeça dilacerada - mudou a cara da cidade.

Enquanto umas pessoas vivem desconfiadas sobre quem seriam os possíveis mandantes e executores, outras temem sair de casa com medo de serem alvos de emboscadas e planejam deixar Ubatuba o quanto antes, pelo menos até a poeira baixar, ao mesmo tempo em que outros andam assustados e ressabiados com o avançar das investigações da polícia que a cada dia trazem elementos que intrigam e indicam que não se trata de um crime comum. 

Na tarde desta terça-feira, dia 29 de agosto, um homem se apresentou espontaneamente na delegacia de polícia como sendo o executor do assassinato. A polícia vai apurar a veracidade das informações prestadas, pois outros dois homens -  DIEGO FELIPE DA SILVA MESSIAS MORAES (vulgo Pé) e CELIO PEREIRA SANTO JUNIOR - estão presos sob a suspeita de participação no crime.

No dia do crime (16/08/2023), o motorista de aplicativo fazia corrida com seu carro quando enviou a última mensagem para a esposa RAÍSSA por volta das 22h 37m. O aparelho celular da vítima perdeu o sinal quando passava pelo bairro do Sumidouro. 

Na manhã seguinte, enquanto WILLIAN continuava desaparecido, amigos localizaram o veículo utilizado pelo motorista de aplicativo, estacionado próximo ao campinho de futebol do bairro Silop. O automóvel, uma Ecosport, estava revirada por dentro. Do lado de fora do carro, no chão, cerca de um metro de distância da porta do passageiro dianteira, próximo a uma árvore, foi encontrado o frasco de perfume utilizado pela vítima. Por volta de 13 horas e 30 minutos, o corpo de WILLIAN foi encontrado no acostamento da Rodovia BR 101. 

No curso da investigação, apurou-se que recentemente WILLIAN e RAÍSSA teriam sofrido ameaças de DIEGO por supostamente terem denunciado um esquema de corrupção (“rachadinhas”) supostamente envolvendo o vereador JÚNIOR JR, reeleito nas Eleições de 2020 com 1.573 votos e tido como possível candidato a prefeito de Ubatuba em 2024. 

As ameaças feitas por DIEGO foram registradas no Boletim de Ocorrência n° HH9254-1/2023, registrados dias antes por WILLIAN e RAÍSSA. 

O trabalho da perícia conseguiu localizar as digitais de CELIO no frasco de perfume e no veículo da vítima. Então, para a Justiça, não restou outra alternativa que não fosse a decretação da prisão temporária dos suspeitos DIEGO e CELIO por 30 dias para a conclusão das investigações. 

A polícia prendeu os suspeitos no mesmo dia, primeiro capturando CELIO e, em seguida, DIEGO, que já se encontrava na cidade de Guarulhos/SP.

No momento da prisão, DIEGO indicou EDUARDO CÉSAR, advogado e ex-prefeito de Ubatuba, como seu advogado, que compareceu ao local e acompanhou os atos na delegacia e a audiência de custódia no dia seguinte na Justiça.

A menção ao nome do ex-prefeito EDUARDO CÉSAR, feito pelo suspeito DIEGO no momento da prisão, jogou ainda mais lenha na fogueira das especulações, tramas e teorias conspiratórias envolvendo o caso. Isso porque o vereador JÚNIOR JR chegou a exercer a função de Secretaria de Obras e Serviços Públicos na gestão do então prefeito EDUARDO CÉSAR.

Procurado pela reportagem do portal T7NEWS, o ex-prefeito e advogado EDUARDO CÉSAR refutou veementemente qualquer envolvimento com os investigados, exceto na prestação de serviço como advogado, pontualmente, durante a prisão de DIEGO, citando inclusive que era advogado da vítima WILLIAN em uma demanda trabalhista. Acompanhe os principais trechos:

LIGAMOS PARA FALAR SOBRE O CASO DO SEU CLIENTE DIEGO, DE UBATUBA? Sim. Então, rapaz, na verdade eu fiz só a preliminar, porque ele me fez a ligação na ocasião da prisão. E eu orientei os primeiros passos. Mas já tem um outro colega constituído [como advogado no processo].

AH, ENTENDI...Porque quando ele foi capturado, ele tinha na cabeça um número que era o meu, como advogado, conhecido e tal. Daí ele me ligou e eu fiz os primeiros procedimentos, porque eu não sou não [especialista em direito criminal]. E assim ele buscou alguém especialista e aí eu só fiz o primeiro procedimento, a audiência de custódia, e daí para a frente, não sei, não sou mais eu, entendeu?

O SENHOR NÃO CONTINUO NO CASO DE NENHUMA MANEIRA? Não, não. Eu não sei praticamente nada sobre o caso. Eu só sei que ele afirma textualmente que é inocente e que tem provas disso e que vai provar nos autos. Mas eu não sei mais nada além disso, entendeu?

O SENHOR SABE QUEM ESTÁ DEFENDO O JÚNIOR JR? Até onde eu sei, não existe nada, nenhuma denúncia contra o Júnior, entendeu? Então, por isso, por esse motivo não tem advogado consolidado. 

O SEU NOME APARECEU NA HISTÓRIA. PELO FATO DE O VEREADOR JÚNIOR JR TER SIDO SEU  SECRETÁRIO, ISSO GEROU ESPECULAÇÕES NA CIDADE. O SENHOR QUER DAR ALGUMA DECLARAÇÃO? Sim, vamos lá. Hoje eu advogo. Então eu não sou ligado a partido e a grupo político nenhum. Eu, enquanto prefeito, do meu grupo político, foi a [ex] prefeita Flávia [Pascoal], foi o vereador Júnior [Jr], eles foram do meu grupo político. O Eugênio [Zwibelberg], presidente da Câmara, trabalhou conosco também em cargo de comissão. Então, estão todos. Eram todos oriundos de um mesmo grupo, de uma mesma administração. Ocorre que, posteriormente e posterior à minha saída da prefeitura, eu continuei amigo de todos e comecei a advogar. Nesse ínterim, eu já advoguei para várias pessoas, mais assim uma pessoa me chama como profissional, então eu não atuei e não estive lá com o com o Diego como agente político, eu tive como advogado, que isso que fique claro. Fui lá porque ele me ligou e eu fui atende-lo no momento de angústia. E foi isso, tá? Sim, uma coisa importante, se você quiser constar, eu também fui advogado há poucos meses do William, que é o falecido, numa ação trabalhista contra uma empresa que atua contra a prefeitura. Eu consigo te mostrar que fui advogado do William agora recente há meses atrás. O [ex-prefeito] Sato foi meu chefe de gabinete, trabalhou junto comigo. O [vereador] Júnior era secretário de Obras, a [ex-prefeita] Flávia era supervisora de educação no cargo de confiança. O Eugênio [Zwibelberg, atual presidente da Câmara] era da licitação. O Marcelo Mourão, que é o advogado do outro lado [do caso], era o secretário de Assuntos Jurídicos. Você está entendendo? Então, eu tenho um relacionamento com todos eles e, infelizmente, o rapaz, ao ser detido, lembrou do meu nome e me ligou. Eu não deixaria no caminho nem ele nem ninguém. 

É VERDADE QUE A INVESTIGAÇÃO VAI SER CONDUZIDA PELO GAECO [GRUPO DE ELITE DO MINISTÉRIO PÚBLICO]? Olha, eu não sei, mas vi as pessoas dizendo que deveria ir pro Gaeco. Se você perguntar minha opinião pessoal, eu acho que não deveria ir pro Gaeco. Falando tecnicamente, eu não consigo ligar o Gaeco [ao caso]. Há um homicídio, que não foi esclarecido, e que tem algumas vertentes. Eu ligaria o DHPP com certeza, porque onde há homicídio é o DHPP que deve agir. Preciso falar também que acredito muito no trabalho aqui da equipe que vai solucionar isso, porque o veículo estava rastreado, o veículo passou por câmeras, encontraram digitais... é um crime clássico que vão conseguir achar e tem muito rastro deixado. Eu acredito que vai ser solucionado em breve pela polícia local. Mais se você pedir a minha opinião eu digo: quanto mais supervisão externa para tirar a conotação política [do caso] é bom para a cidade, é bom para os políticos, entendeu? Havendo responsável, que seja punido com rigor máximo.

O SENHOR ACHA QUE O CRIME TEM RELAÇÃO COM A DENÚNCIA DA RACHADINHA? Pelo que eu conversei na ocasião da detenção do rapaz, eu apostaria que não. [Entretanto] Eu não posso dizer se tem ou não tem, mas [envolvimento] do Diego não tem. Entendeu? Porque eu fiquei horas com o rapaz preso, indignado, que não sabia o que estava acontecendo. 


O vereador Júnior JR foi procurado pela reportagem, mas não quis se manifestar, afirmando apenas que confia no trabalho da Polícia Civil para solucionar o caso. O portal T7News continua à disposição para manifestações futuras. 


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