Moradores do morro do Fórum em Ubatuba relatam sentir medo e esperança
Mais de 170 famílias poderão deixar suas casas após ordem judicial
Tensão, desespero, medo de não ter para onde morar e um pouco de esperança, assim está o clima entre os moradores do Morro do Fórum em Ubatuba.
Ao conversar com moradores me deparei com pessoas da área invadida cheias de esperança de que a ordem judicial que obriga o despejo das mais de 170 famílias seja cancelada ou, no mínimo, adiada. As famílias reclamam que não conseguiram encontrar imóveis para locação, além de outros problemas relacionados, como, segundo os moradores, os locatários não permitem na maioria dos aluguéis a presença de crianças, nessa mesma proporção não são permitidos animais.
Mas o sentimento que mais impera entre os moradores do Morro do Fórum é o de medo, é a incerteza de não saber que pode ir trabalhar e quando voltar seu lar estará lá.
"Eu vou ver meus sonhos sendo arrancados de mim" disse Issany Gabrielle, que mora no Morro do Fórum há mais de 5 anos. Ela que tem 2 filhos, um menino de 5 e uma menina de 12 anos, revelou estar em desespero com a situação vivida por eles.
Alguns moradores nem começaram a juntar seus pertences, outros já se adiantaram e começaram a se antecipar a retirada forçada pelo estado.
Em uma casa, o morador já estava tirando o telhado e as madeirites que protegiam as laterais. Na casa de Luiz Ricardo, os itens mais caros ele já tirou, o fogão já foi embora para ficar depositado na casa de parentes. Blocos que ele havia comprado para mudar sua casa, que hoje é de madeira para mudar para de alvenaria, ele já vendeu.
Luiz que tem 3 filhos disse que está nas mãos de Deus "agente está confiando em Deus, porque eu mesmo não tenho casa para ir, nem dinheiro para alugar uma casa"
O tatuador Hernando Pereira perdeu o sono ao sonhar com a desocupação.
Já uma moradora da região é vista a todo momento chorando.
No período da tarde desta segunda-feira, 27, alguns moradores se reuniram para assistir a um telejornal que exibia uma reportagem sobre o tema.
Logo após desceram o morro em passeata sentido ao Fórum Desembargador Joaquim de Syllos Cintra e realizaram um protesto em frente ao órgão do judiciário.
Um grupo que representa os moradores e pessoas ligadas a políticos e movimentos sociais partiram em direção a companhia da Polícia Militar de Ubatuba para participarem de uma reunião que contou com a presença de representantes dos governos municipal, estadual e federal.
Ainda não há informações de como terminou a reunião.
A prefeitura de Ubatuba informou que disponibilizará caminhões para ajudar na mudança, mas alguns moradores reclamam que não têm onde levar móveis, eletromédicos e outros itens.
As famílias que não tem onde ficar ficarão provisoriamente no ginásio esportivo Tubão, na região central da cidade, segundo informou a prefeitura o prazo máximo é de três dias.
A prefeitura de Ubatuba divulgou nota sobre o caso, veja na íntegra.
Uma grande operação está sendo preparada para cumprir a decisão judicial que ordena a desocupação e a demolição das construções irregulares que integram a área do Morro do Fórum, localizada na Estufa II. A medida emergencial terá a participação de várias equipes do município e de policiais que interditarão a área entre esta segunda (27) e terça-feira (28).
A previsão é que cerca de 195 militares participarão da ação, com apoio da Guarda Municipal, Defesa Civil e de servidores de diversas Secretariais Municipais. As estratégias para efetivar o cumprimento da ordem judicial foram desenvolvidas de forma integrada e planejada para que ocorra de maneira ordeira e pacífica.
A prefeitura ressalta que até o momento anterior ao início da operação, os ocupantes ainda podem contar com o apoio municipal para retirar seus pertences com calma e tranquilidade, utilizando dos serviços de transporte gratuito para a mudança, seja para casa de familiares e amigos ou para o abrigo provisório no Ginásio de Esportes (Tubão) oferecido pela prefeitura.
O Morro do Fórum é uma área pública, considerada de alto risco pela Defesa Civil e que oferece perigo iminente às pessoas que ocupam o local, principalmente nestas épocas de fortes chuvas. De acordo com o secretário Municipal de Assuntos Jurídicos, Ronaldo de Andrade, o cumprimento da ordem judicial tem como preocupação principal a segurança e a vida das dezenas de pessoas que se encontram no local.