Esporte

Liga Ubatubense revoga punição a atletas envolvidos em pancadaria e causa revolta no futebol amador

Decisão monocrática do presidente da entidade permite que jogadores punidos por agressão voltem a atuar ainda em 2025

Da redação | Data: 23/06/2025 16:39

A Liga Ubatubense de Futebol (LUF) surpreendeu atletas, dirigentes e integrantes da própria diretoria ao anunciar, por meio de decisão monocrática, a revogação da suspensão imposta a jogadores envolvidos em uma briga generalizada durante a final da Copa Sul de 2024, entre Folha Seca e Geração Eleita. O episódio ocorreu no campo do Sertão da Quina e teve repercussão nas redes sociais e na Câmara Municipal, onde foi realizada audiência pública para discutir a violência no futebol amador.

Com a nova determinação, assinada pelo presidente da LUF, Edmundo Santana Bispo, os atletas anteriormente punidos poderão disputar normalmente o Campeonato Municipal de 2025, incluindo a primeira divisão, que já está em andamento. Segundo o comunicado, as punições deverão ser cumpridas apenas em 2026, durante a realização da próxima edição da Copa Sul, respeitando, segundo a entidade, a “equivalência das competições”.

A justificativa se baseia no artigo 141 do Código da Liga e foi comunicada oficialmente aos clubes. O presidente afirmou, ainda, que a decisão é "irrevogável" e que nenhum representante da diretoria prestará esclarecimentos sobre o tema.

A medida, no entanto, gerou forte reação contrária. Dirigentes de clubes, membros da própria Liga e representantes do esporte local classificaram a decisão como um “absurdo”. Um dos pontos mais criticados é que, embora o argumento legal da equivalência de competições seja usado, ele não se aplica a casos de violência, cujas suspensões são consideradas válidas para todas as competições organizadas pela entidade.

Legalidade em xeque e críticas à moralidade da decisão. As informações são do Portal LN21.

A comparação feita por defensores da medida com torneios como a Libertadores foi rebatida por dirigentes e especialistas. No caso das competições da CBF, por exemplo, suspensões por atos de indisciplina são cumpridas em qualquer torneio promovido pela entidade, e não apenas naquele em que a infração ocorreu. “O argumento usado não se sustenta. Suspensões por violência não podem ser ignoradas ou transferidas de forma conveniente”, destacou um dirigente esportivo.

A principal crítica, no entanto, é de ordem moral. Um integrante da diretoria da Liga afirmou, sob anonimato, que pretende deixar o cargo. “Não compactuo com isso”, disse.

Dirigentes temem que a medida incentive novas agressões, inclusive contra árbitros. “Sem rigor nas punições, apitar futebol amador vai se tornar ainda mais perigoso”, alertou um dos dirigentes ouvidos.

Na região sul da cidade, um diretor de clube anunciou que pretende retirar a Copa Sul do campo do Sertão da Quina. “A gente não vai trazer porque manchou o nome do clube, da região. Ficou como se nossa região fosse muito violenta, com muito clube não querendo vir jogar aqui”, afirmou.

Impacto regional

A decisão também pode impactar negativamente a imagem de Ubatuba junto às ligas esportivas de Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela. Segundo apuração do LN21, havia um acordo informal entre os dirigentes dessas cidades para que punições por violência fossem reconhecidas entre as entidades, o que agora pode ser comprometido.

“Garantimos para as outras cidades que lutaríamos juntos contra a violência. E agora, com que cara eu fico? Vou passar vergonha”, disse um dirigente de Ubatuba.

Decisão autoritária

A forma como a decisão foi comunicada também gerou críticas. Em texto enviado aos clubes, o presidente da LUF afirmou que a medida é definitiva e que ninguém da diretoria se manifestará sobre o assunto. O teor do comunicado, reproduzido abaixo, foi visto por dirigentes como um sinal do isolamento da presidência e da fragilidade moral da decisão:

“Boa tarde, senhores representantes dos Clubes envolvidos no Campeonato Municipal 2025. A Liga Ubatubense Juntamente com todo corpo Jurídico, após dias e dias analisando aos diversos pedidos para que podessesmos rever todos os relatórios e conteúdos em vários níveis de vídeos tanto pela TV CAIÇARA QUE FAZIA AS TRANSMISSÕES naquela data. Segue a nossa decisão para que os Clubes tomem ciência da nova decisão. Informamos ainda, que, essa é uma irrevogável e nenhum membro da Diretoria da Liga irá se pronunciar nem por telefone nem pessoalmente representante a nova decisão.”

Diante do cenário, o clima é de insatisfação generalizada. Em um grupo de mensagens de dirigentes da Liga e dos clubes, uma mensagem de voz obtida pelo LN21 resume o sentimento da maioria:

“Rapaziada, no papo mesmo, Liga vai tomar pancada pra c. por causa dessa decisão aí que tomou. Pelo amor de Deus, mano, orienta seus atletas, orienta seus diretores. Para de ir para a beira de campo para arranjar confusão”.

Para muitos, a decisão abre precedente perigoso e enfraquece os esforços para conter a violência no futebol amador de Ubatuba e da região.


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