"Isso é um abuso, um crime", diz diretor da APEOESP Taubaté sobre fim do Ensino Médio noturno
Quatro escolas estaduais de Taubaté não terão mais turmas no período da noite em 2025
Na última quarta-feira, 6, mostramos a mobilização de pais e alunos que cursam o Ensino Médio no período noturno na Escola Estadual Prof. Mário Cardoso Franco contra o fechamento da turma.
Entretanto, conforme apurou a reportagem de T7 News, este não será um problema apenas de estudantes e responsáveis da unidade de ensino localizada no bairro Cidade de Deus.
Turmas de Ensino Médio noturno de outras oito escolas estaduais de Taubaté passarão por um processo de encerramento ou redução.
Mudanças nas escolas
Conforme apurado junto a APEOESP, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, e confirmado com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, além do EE Prof. Mário Cardoso Franco, as EE Antônio Magalhães Bastos, EE Félix Guisard Filho e EE Prof. Gentil de Camargo não terão turmas no período noturno em 2025.
Os alunos do EE Antônio Magalhães Bastos, no Alto do Cristo, e EE Prof. Gentil de Camargo, no Parque Três Marias, serão transferidos para a EE Antônio Moura Abud, no Jardim América.
Já os estudantes da EE Felix Guisard Filho, no Parque Planalto, serão realocados para a EE Jacques Félix, na Vila Albina.
“Pancada” na educação de SP
O fechamento das turmas noturnas nas escolas estaduais não surpreendeu o professor Silvio Prado, diretor da subsede Taubaté da APEOESP, com quem conversamos para buscar entender a situação.
“Primeiramente devo falar para você o seguinte: todo dia o Governo de São Paulo dá uma pancada pesada na educação pública. O objetivo principal do Governo de São Paulo, com relação ao ensino noturno, por exemplo, é acabar com o ensino noturno. Isso é um abuso, um crime, digamos assim, porque você vai atingir a vida de milhões de jovens”, afirmou Prado logo ao iniciar o diálogo.
O profissional da educação avalia que a extinção das turmas do Ensino Médio no período noturno não atende a uma realidade muito latente na vida de milhares de famílias do país, onde muitos adolescentes ajudam a complementar a renda do lar.
“Se você pegar no Brasil, poucos são os adultos que só estudaram de manhã ou a tarde. A maioria da juventude, das pessoas ativas no Brasil hoje, trabalhou durante o dia e estudou a noite, até porque a vida exige isso da gente, a necessidade econômica empurra a gente para esse projeto. E veja bem, o governo não percebe essa dinâmica da sociedade, que nas famílias pobres ou remediadas os jovens começam a trabalhar muito cedo, e aí se você tira o ensino noturno e obriga esse jovem a frequentar a escola em tempo integral, aparentemente poderia estar fazendo um bem porque está oferecendo educação para ele, mas está tirando dele o ‘ganha pão’, ou o reforço do ganha pão da família dele, então para nós, todo dia é uma pancada”, reflete Prado.
Para Prado, acabar com a oferta de ensino noturno para a rede estadual atende mais a fatores econômicos, que não deveriam ser utilizados para nortear a gestão do ensino.
“Uma coisa que tem que ser dita nessa discussão de fechamento de salas do noturno é que o Governo de São Paulo, o Tarcísio, ele tem como meta economizar R$ 10 bi do orçamento educativo. Ao invés dos 30% que o Estado colocaria na Educação, colocaria 25%, esses 5% de diferença daria em torno de R$ 10 bi. O governo quer economizar, como se educação fosse uma fábrica, uma loja que você negociasse coisas pra ter lucro, na educação você não tem gasto, você tem investimento, porque uma população bem educada, bem qualificada vai gerar economia em outros pontos, você vai diminuir a violência, os acidentes de trânsito”, avalia.
Ele afirma que não somente os alunos serão prejudicados com a concretização do fim do ensino noturno e outras mudanças na grade curricular pode afetar negativamente os professores da região.
“O cálculo que nós fizemos, se for concretizada essa loucura, digamos assim, só aqui em Taubaté, de 80 a 10 professores vão ficar desempregados se realmente essas mudanças acontecerem. Eu falo se acontecerem porque nós estamos na rua para impedir isso daí, tem pais que vão no Ministério Público, vão ter atos públicos, denuncias públicas, falas na Câmara, aí acho que pode haver uma mudança no projeto do governo”, salientou.
Segundo ele, a APEOESP tem buscado formas de reverter a situação principalmente na mobilização daqueles que serão afetados bem como das lideranças de bairro.
“Estamos fazendo a denúncia, estamos tentando organizar as pessoas atingidas a reagir com denúncia pública, estamos aconselhando as pessoas, nas suas comunidades, a conversarem com os padres das suas igrejas, pastores, porque essa gente também tem que ser chamada a responsabilidade porque é o rebanho deles. Seu eu fosse pastor e tivesse uma igreja na Baronesa, eu não gostaria que o meu fiel fosse estudar no Parque Ipanema a noite, eu quero conforto pra ele, que a lei funcione pra ele, então essas entidades públicas também precisam ser motivadas a fazer defesa do direito a educação. Então a APEOESP vem trabalhando de várias maneiras, na mídia, orientando as pessoas ajudando a montar programa de resistência com relação a esse ataque, sem contar em nível central, a partir de São Paulo, denúncia na Assembleia Legislativa, ação no Ministério Público, é que a gente está fazendo”, conclui.
O que diz o governo
Além de confirmar a transferência dos estudantes das escolas mencionadas acima, a Secretaria de Educação do Governo de São Paulo, por meio de nota, reforçou mais uma vez que “nenhum aluno do período noturno ficará desassistido. Todo estudante que necessitar, tem vaga garantida na rede pública de ensino, sendo sempre direcionado à escola mais próxima de sua residência que possua vaga disponível para o ano/série pretendido” e também que “o número de alunos por classe respeita o estabelecido na Resolução SE 02/2016, bem como é ofertado transporte escolar aos alunos que tenham residência a mais de 2 km da unidade, conforme Resolução SE nº27.”