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O Desaparecimento do 7 de Setembro em Taubaté: Um Golpe na Cultura Histórica

Dimas Oliveira é cineasta e pesquisador da história artística brasileira e em especial da história taubateana

Dimas Oliveira Junior | Data: 03/09/2023 20:55

...Poucos minutos poderiam ter-se passado depois da retirada dos referidos viajantes (Bregaro e Cordeiro), eis que percebemos que o guarda, que estava de vigia, vinha apressadamente em direção ao ponto em que nos achávamos. Compreendi o que aquilo queria dizer e, imediatamente, mandei formar a guarda para receber D. Pedro, que devia entrar na cidade entre duas alas. Mas tão apressado vinha o príncipe, que chegou antes que alguns soldados tivessem tempo de alcançar as selas. Havia de ser quatro horas da tarde, mais ou menos. Vinha o príncipe na frente. Vendo-o voltar-se para o nosso lado, saímos ao seu encontro. Diante da guarda, que descrevia um semicírculo, estacou o seu animal e, de espada desembainhada, bradou: "Amigos! Estão, para sempre, quebrados os laços que nos ligavam ao governo português! E quanto aos topes daquela nação, convido-os a fazer assim." 

E arrancando do chapéu que ali trazia, a fita azul e branca, a arrojou no chão, sendo nisto acompanhado por toda a guarda que, tirando dos braços o mesmo distintivo, lhe deu igual destino.  "E viva o Brasil livre e independente!" gritou D. Pedro. Ao que, desembainhando também nossas espadas, respondemos: - "Viva o Brasil livre e independente! Viva D.Pedro, seu defensor perpétuo!" ...E bradou ainda o príncipe:"Será nossa divisa de ora em diante: Independência ou Morte!"

Por nossa parte, e com o mais vivo entusiasmo, repetimos: "Independência ou Morte!"

Capitão-mor Manuel Marcondes de Oliveira e Mello, (depois barão de Pindamonhangaba) – 7 de setembro de 1822

No ano de 2022, a cidade de Taubaté testemunhou um brilhante desfile de 7 de setembro, na Avenida Professor Walter Thaumaturgo (Avenida do Povo), marcado por sua dedicação em transmitir a cultura histórica do Brasil às novas gerações. No entanto, em 2023, um vazio tomará o lugar desse evento cívico, revelando um descaso total com os jovens do município e a tradição cívica do país.

Lembrando que 201 anos atrás, existiam taubateanos presentes no exato momento da proclamação da independência, eram eles: Francisco Xavier de Almeida; Vicente da Costa Braga; Fernando Gomes Nogueira; João José Lopes; Rodrigo Gomes Vieira; Bento Vieira de Moura).

 Ignorar uma data cívica como o Dia da Independência, como ocorrerá este ano em Taubaté, é contribuir para o sepultamento da cultura histórica de um país. É relegar a segundo plano a importância de conhecer as origens e a história, fomentando a ignorância entre os jovens.

A justificativa apresentada para a ausência do desfile em 2023 é a alegação de cortes de gastos. No entanto, cabe questionar: que gastos são esses? Será que o Exército, a Aeronáutica ou a Polícia Militar estão exigindo pagamento para participar? Certamente não. E o que dizer dos equipamentos culturais e artísticos do município? Por que não podem se apresentar e celebrar essa data tão importante? Afinal, em 2022, tivemos Os Escoteiros, os alunos da Escola de Artes Maestro Fêgo Camargo, Colecionadores de Carros Antigos da cidade, Alunos das Escolas Municipais, Famuta, Bamuq, Ballet da Cidade...entre outros, e tudo realizado com muito amor, gestão,respeito e PARCERIAS! 

Será falta de coordenação? Falta de gestão? Ou, como poderia ser sugerido pelo autor Monteiro Lobato, se vivo fosse, em seu livro "Cidades Mortas," Taubaté passou a ser um capítulo especial desse sombrio enredo? A resposta a essas perguntas é essencial para compreendermos por que uma tradição cívica tão significativa está sendo deixada de lado, prejudicando não apenas a cultura histórica, mas também a identidade e o conhecimento dos jovens de Taubaté.

É imperativo que as autoridades e a comunidade local revejam essa decisão e encontrem maneiras criativas e viáveis de preservar e transmitir a cultura histórica do Brasil para as futuras gerações, mantendo viva a importância do 7 de setembro em Taubaté. Afinal, negligenciar nossa história é abrir mão de uma parte fundamental de nossa identidade como nação.

A história não deve ser sepultada, mas sim comemorada e preservada com zelo. A ausência do desfile de 7 de setembro em Taubaté em 2023 parece ser resultado de uma falta de vontade e uma displicência total, que beira a negligência, em relação a algo tão importante para a cultura e a educação dos jovens da cidade.

É evidente que o desfile poderia acontecer sem custos significativos, como alegado pelas autoridades responsáveis. A cidade de Taubaté possui à disposição uma variedade de recursos e equipamentos da Prefeitura Municipal que poderiam ser mobilizados para proporcionar um desfile digno na “Avenida do Povo.” A falta de criatividade e empenho em encontrar soluções viáveis apenas ressalta a indiferença em relação à preservação da cultura histórica.

Celebrar o 7 de setembro não é apenas uma questão de patriotismo, mas também uma oportunidade valiosa para educar as gerações mais jovens sobre a importância das origens e da história do Brasil. Deixar de lado essa comemoração é um desserviço ao desenvolvimento cultural e educacional da comunidade de Taubaté.

É hora de as autoridades e a sociedade se unirem para encontrar alternativas que permitam a continuidade desse evento cívico tão relevante. Afinal, a cultura histórica é um patrimônio valioso que deve ser preservado para as futuras gerações, e isso requer comprometimento e dedicação, não descaso e desinteresse.

Na atual conjuntura, não temos povo, temos população, que olha para o mundo político do mesmo modo como uma plateia assiste a um show qualquer. Assim, a frase “O Brasil não tem povo, tem plateia”, compreendida deste modo, descreve uma realidade que precisa ser vencida urgentemente.

Lima Barreto – (Jornalista e escritor brasileiro) – 1881-1922

Veja a notícia sobre o cancelamento do desfile: Prefeitura de Taubaté cancela o tradicional desfile de 7 de setembro


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