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Monteiro Lobato: o pai da Literatura Infantojuvenil e muito mais!

"O legado de Monteiro Lobato é um convite eterno para que entremos em um universo onde a imaginação e a crítica caminham lado a lado, desafiando-nos a ver o mundo não como ele é, mas como poderia ser"

Dimas Oliveira Junior | Data: 15/04/2024 11:04

No dia 18 de abril celebramos o Dia do Escritor Monteiro Lobato, criador de um universo fantástico que, por mais de um século, tem sido uma presença constante na vida de várias gerações de brasileiros. Lobato, porém, é muito mais do que o inventor do Sítio do Picapau Amarelo e suas figuras lendárias como Emília e Visconde de Sabugosa. Ele foi um homem de múltiplas facetas: editor, tradutor, político, crítico, aquarelista, entre outros.

Como tradutor, Lobato trouxe para o português grandes obras da literatura mundial, como “Rebecca”, de Daphne Du Maurier, e “Pollyana”, de Eleanor H. Porter. Além disso, foi o responsável por prefaciar clássicos da literatura brasileira, como “Éramos Seis”, de Maria José Dupré. Mas sua atuação não se limitou ao campo literário. Ele foi um ferrenho defensor da exploração do petróleo como patrimônio nacional, um visionário que lutou contra muitos obstáculos para provar a existência de petróleo no Brasil.

A polêmica entre Monteiro Lobato e Getúlio Vargas é um capítulo crucial na vida do escritor, marcado pela fervorosa defesa que Lobato fez dos recursos naturais do Brasil, particularmente o petróleo. Sua prisão, em 1941, é um exemplo contundente da complexa relação entre política e intelectuais no Brasil durante o Estado Novo (1937-1945).

Monteiro Lobato foi um dos primeiros a advogar pela nacionalização dos recursos minerais do país, especialmente após suas viagens aos Estados Unidos, onde se familiarizou com a indústria petrolífera. Ele acreditava firmemente que o Brasil possuía reservas substanciais de petróleo e que estas deveriam ser exploradas e administradas pelo país, em vez de ficarem sob controle estrangeiro. Esta postura o colocou em rota de colisão com o governo de Getúlio Vargas, cuja política para o setor era menos inclinada à nacionalização imediata e mais aberta a parcerias com companhias estrangeiras.

A situação escalou quando Lobato iniciou uma intensa campanha pública pela exploração e nacionalização do petróleo. Ele escreveu diversos artigos e cartas abertas criticando a política petrolífera do governo e acusando o Conselho Nacional do Petróleo (CNP) de negligenciar evidências de que o Brasil possuía reservas viáveis de petróleo. Lobato argumentava que o país estava perdendo uma oportunidade valiosa de desenvolvimento econômico e autonomia.

Em 1941, sua oposição ao regime de Vargas levou à sua prisão por "crime contra a segurança nacional". Lobato foi acusado de incitar a subversão e o sentimento antinacional por suas críticas ao governo e suas políticas petrolíferas. Ele foi condenado a seis meses de prisão, que cumpriu na cadeia pública de São Paulo. Sua prisão gerou grande repercussão e debates sobre a liberdade de expressão no Brasil.

A detenção de Lobato não apenas refletiu a atmosfera repressiva do Estado Novo, sob a liderança autoritária de Vargas, mas também destacou a disposição de Lobato de enfrentar poderes estabelecidos para defender aquilo que considerava essencial para o futuro do país. Após sua libertação, Lobato continuou a escrever e a se envolver em questões nacionais, mas sua saúde foi afetada negativamente pela experiência na prisão.

Este episódio é um exemplo poderoso de como Monteiro Lobato, conhecido principalmente por sua literatura infantil, também foi uma figura central em debates importantes sobre recursos naturais e política no Brasil. Ele permanece uma figura controversa e complexa, cujas ações e escritos ressoam até hoje na cultura e na história brasileira.

Lobato também foi o inspirador do primeiro "Clube de Literatura Infantil Monteiro Lobato", fundado em Buenos Aires na década de 40, provando que seu legado transcendeu fronteiras. Conhecido por sua irreverência e polêmica, Lobato nunca hesitou em expressar suas opiniões, enfrentando críticas e perseguições sem nunca abandonar seus ideais. Mesmo em momentos de falência, sua determinação não vacilava.

Sua vida foi tão rica em eventos quanto em controvérsias. Após sua morte, surgiram psicografias atribuídas a ele, causando um frenesi nacional, uma história que merece um capítulo à parte. Em Taubaté, sua cidade natal, enfrentou rejeição extrema, incluindo uma moção de repúdio da Câmara Municipal e até a queima pública de seus livros, sendo rotulado de comunista enquanto era celebrado em locais tão distantes quanto Nova York.

Monteiro Lobato não foi apenas um mestre das histórias infantis; ele foi um cronista das verdades urbanas e rurais, criando personagens como Jeca Tatu e a própria Emília, que com seus maneirismos e linguagens capturaram as contradições do povo brasileiro. Sua morte em 1948 foi um evento marcante: o comércio de São Paulo fechou suas portas, e um luto oficial de três dias foi decretado, refletindo o impacto profundo de sua vida e obra. O governador de São Paulo, Sr. Adhemar de Barros presente e todas as autoridades locais e a presença dos amigos fieis, Prof. Cesidio Ambrogi e Prof. Gentil de Camargo, levando a saudade da amizade verdadeira de sua sua cidade natal.

Hoje, é fundamental que revisitemos e valorizemos Monteiro Lobato. Compreender suas polêmicas e sua obra é essencial para entendermos não apenas o passado, mas também para construirmos um futuro mais consciente. Lobato foi, indubitavelmente, um homem além de seu tempo, um verdadeiro pioneiro cuja voz ainda ressoa em nossa cultura. A boneca de pano que fala por nós continua a ser um símbolo sagaz de sua genialidade. Salve, Monteiro Lobato, o pai da literatura infantojuvenil e um gigante da cultura brasileira.


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