Mestre Quintino, veterano da cultura popular do Vale, lança álbum e faz shows com convidados ilustres em Pinda e Tremembé
Shows terão entrada gratuita e contam com participações especiais de Moreno Overá, Zé Orlando e Fátima Ortiz
Com voz rouca, cabelos longos e sorriso largo, Mestre Quintino é batuqueiro do futuro enviado ao passado para, com pulsação roqueira, romper no presente com tradições sonoras que não o distanciam, porém, do som brejeiro que é conceito para “Música Caipira Planetária”, disco que acaba de chegar às plataformas digitais vibrando amor e consciência pelo bem da humanidade. A ideia é surpreender o público. O novo trabalho é uma congregação de ritmos (blues, rock, reggae etc) levada pelo suingue da banda Skaya sob bênçãos de Mestre Lumumba (1946-2023) e será apresentado com entrada franca e recursos de acessibilidade em palcos de Pindamonhangaba (28/06, sáb., 21h) e Tremembé (06/07, dom., 20h). Viola eletrodinâmica de Moreno Overá e participações de Zé Orlando (ex-Tribo de Jah) e Fátima Ortiz são destaques.
“Nós queremos bagunçar a cabeça dos historiadores de música caipira!”, diverte-se Quintino. “Aqui é uma mistura de gerações com muita coisa a dizer, mas sem deixar de ser da roça! São canções de poética afetiva acessível, sobre um mundo plural e solidário, que marcam o início de uma trilogia que busca inovar em sonoridade sem perder referências da nossa cultura.”
Os shows serão com a mesma formação de músicos que no ano passado esteve presente no Estúdio 185, em São Paulo, para a gravação do EP que leva o nome do projeto, disponível no Spotify, e do show online que chega ao YouTube em 07/07. Entre as exceções do repertório autoral, a toada “Lua Congadeira”, cantada por Fátima Ortiz, é assinada por Mestre Lumumba, referência do saber popular de quem Quintino foi aprendiz.
“Lumumba foi pioneiro em unir ritmos afro-ameríndios a um instrumental mais moderno. Toquei com ele muitos anos e, antes de ‘se encantar’, ele pediu que fosse dada continuidade ao trabalho dele sem que houvesse, entretanto, alguém se dizendo seu sucessor. Diante deste enigma, estou aqui transcendendo ritmos como forma de estender o legado que deixou”, reverencia Quintino.
Imagem: Divulgação/ Diego Migoto
Banda de responsa
Ao seu lado está a banda Skaya, formada por guitarra, bateria, baixo elétrico, saxofone e trompete, que adiciona às composições de Quintino muito balanço resultante da sonoridade tirada da fusão de música jamaicana (em variações do reggae, como ska e rocksteady) com popular brasileira, valorizando influências do jazz e do blues.
Para acompanhar este time na fundamental viola caipira, tocada com muita personalidade, o experiente músico Moreno Overá se desloca de São Luiz do Paraitinga para a agenda do projeto.
Viola diferente e exclusiva
Quem for aos shows de lançamento do disco, nos dias 28/06 (Pinda) ou 06/07 (Tremembé), poderá conferir de perto a inovação: um instrumento maciço como uma guitarra, com captação acústica e ressonador de metal, mas ainda… Uma viola! “Fui atrás de um luthier especializado para desenvolver este modelo, chamado viola eletrodinâmica, sob medida. Ela me permite elevar o volume acima da bateria ou do baixo, ou colocar efeitos de guitarra que deixam o público curioso, porque é um instrumento pouquíssimo usado”, explica Overá.
Para ficar ainda mais específico, o músico usa afinação diferenciada. “É a chamada rio abaixo, feita em sol. Isso quer dizer que a tônica é mais grave e com tensão de cordas mais solta, conferindo peso, mas também certa tranquilidade ao som”, esclarece. “Não há outro que a use, hoje, nas raras violas eletrodinâmicas do país. Por esta excentricidade toda, unida ao Skaya, é que o Quintino diz que este trabalho virou uma música caipira planetária”, diverte-se.
Ídolo do reggae
Ícone do reggae brasileiro, Zé Orlando, ex-vocalista por 23 anos da banda Tribo de Jah e atual líder do projeto Pedra Rara, é quem assume o microfone ao lado de Quintino na faixa “Love”, que fala de paz e amor através dos tempos. O artista está no disco, no show online e é convidado do dia 06/07, em Tremembé.
“Música é isso, é contato que prolonga experiências! Fui apresentado à faixa por áudio, ao topar gravar com o grupo, e quando chegamos ao estúdio, trocando ideias, o sentimento veio. Houve entrosamento com a banda, formada por jovens com espírito da positiva, e ficou muito legal!”, diz o músico, que nutre carinho pela região. “Com a Tribo de Jah fiz muitos shows bons no Vale!”
Entre mestres
Mestre Quintino, que já tem o EP “Rock do Brejo” (2022), herdou vocação para música e cultura do avô, que em 1917 formou a tradicional Banda do Quintino, de Tremembé. Com ele, começou tocando caixa em cortejos e eventos dos mais inusitados, como leilões e enterros, até se render, aos 19 anos, às cordas e à bateria do rock. Ao final dos anos 1990, conheceu Mestre Lumumba, com quem aprendeu a arte dos tambores e passou a se apresentar em shows e gravações.
Tornou-se construtor deste instrumento, principalmente na estética africana (ON’Ilu), e hoje instrui outras pessoas a fabricá-lo por meio de projetos como as oficinas “100 Tambores pelo Mundo”. De acordo com Quintino, foram 137 inscrições, das quais já têm 6 prontos e 40 sendo finalizados.
Quintino acumula hoje os títulos de criador da Orquestra do Erê e da Primeira Escola de Congo de São Benedito do Erê, onde também é capitão de congada, e de alabê do Ylê Asé Omo Ayiê (casa de candomblé fundada por Lumumba em São Luiz do Paraitinga).
Serviço:
Junho - Pindamonhangaba
Dia 28/06 (sáb.), às 21h, gratuito.
Em frente ao Eden Beer (trav. Rui Barbosa, 60, centro), em rua fechada para trânsito. Livre.
Julho - Tremembé
Dia 06/07 (dom.), às 20h, gratuito.
Na Casa de Cultura Prof. Quintino Jr (r. Wilson Solano da Cunha, 60, centro). Livre.
Dia 07/07, Show Online (audiovisual) - Lançamento no YouTube (@mestrequintino), com participações especiais dos artistas Fátima Ortiz (voz em “Lua Congadeira”) e Zé Orlando (voz em “Love”), com a banda formada pelo grupo Skaya e o violeiro Moreno Overá.