Uma cidade (quase) morta
Uma cidade sem dinheiro é uma cidade sem perspectiva de futuro.
“A quem em nossa terra percorre tais e tais zonas, vivas outrora, hoje mortas, ou em via disso, tolhidas de insanável caquexia, uma verdade, que é um desconsolo, ressurte de tantas ruínas: nosso progresso é nômade e sujeito a paralisias súbitas.”
A história sempre se confunde com a realidade. Como no texto de Monteiro Lobato, no livro Cidades Mortas, é possível observar em pleno 2023 a paralisia da cidade, e o que pode, sim, deixar nosso progresso cada vez mais distante.
Carros voadores são muito bem vindos, mas eles não produzem insumos para o hospital, eles não varrem as ruas e não cortam os matos que crescem pelas praças, rotatórias e canteiros centrais em toda a cidade. Novamente, friso aqui, a indústria aqui é muito bem vinda.
Uma cidade tem que ser pensada para seus moradores, pessoas que dependem de assistência do estado, dependem de acesso a saúde pública de qualidade, com insumos e profissionais que tenham o reconhecimento por toda sua dedicação e que recebam seus salários em dia.
A educação, coitada, foi deixada de lado, os alunos da rede municipal de ensino ficaram o primeiro semestre inteiro sem material escolar, que a prefeitura deveria fornecer. Um dos maiores símbolos de qualidade da educação municipal taubateana, o Colégio Ezequiel, foi fechado. Escolas do trabalho fechadas ou em processo para terem suas atividades interrompidas, e a escola móvel do trabalho abandonada.
E falando em abandono, do modo que está indo, é bem possível que a cidade fique sem manutenção, o atraso com o pagamento a EcoTaubaté, já teve reflexo levando a empresa emitir um aviso prévio para 180 funcionários. E isso não é apenas um problema estético, a cidade ficará feia, mas é um problema de saúde pública. Sem o devido cuidado, a cidade está sujeita a ter uma infestação de escorpiões, inclusive estamos próximos da época de procriação desses animais peçonhentos, que acontece entre agosto e setembro, o que pode aumentar o número de picadas.
Tudo é interligado, gestão pública é um árduo trabalho de pensamento, planejamento e execução, com muita responsabilidade, com observância na legalidade e principalmente na moralidade. Pensar na base, nos mais pobres e nos mais ricos, pensar na educação, na saúde e na infraestrutura, pensar na gestão da cultura, porque senão ficaremos esquecidos, sem verba, sem verbo, sem perspectiva, sem futuro. Se não trilharmos um caminho para Taubaté seremos a Oblivion e “o mundo esqueceu Oblivion, que já foi rica e lépida, como os homens esquecem a atriz famosa logo que se lhe desbota a mocidade. E sua vida de vovó entrevada, sem netos, sem esperança, é humilde e quieta como a do urupê escondido no sombrio dos grotões.”