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O dia em que fotografei o Papa Francisco em Aparecida

Um olhar sobre fé, história e despedida

Marcelo Caltabiano | Data: 21/04/2025 15:45

Na madrugada de 24 de julho de 2013, eu estava em Aparecida, como repórter-fotográfico, com minha câmera pronta e o coração ansioso. O Papa Francisco, faria sua primeira visita internacional durante a Jornada Mundial da Juventude, e a passagem por Aparecida marcava não apenas um gesto de devoção à padroeira do Brasil, mas também um momento simbólico: o início de um papado que se tornaria histórico.

Chegamos à cidade no dia anterior, parte de uma equipe grande de jornalistas. O trânsito já era intenso, lotado de fiéis vindos de todos os cantos do país. Às cinco da manhã, ainda no escuro, já estávamos no estacionamento da Basílica Nacional. O frio cortava, e a chuva insistia em cair. Mesmo assim, a multidão não arredava pé. Vi idosos em cadeiras de rodas, crianças no colo dos pais, famílias inteiras amontoadas sob capas plásticas. O que os mantinha ali? A fé.


Aquela cena me marcou profundamente. Como fotógrafo, estou acostumado a registrar manifestações humanas em seus mais variados estados. Mas naquele dia, havia algo além da imagem. Era como se o calor da devoção das pessoas aquecesse o ar frio da serra. Um calor que não vinha do corpo, mas da alma.

Quando o papa apareceu — de branco, com aquele olhar sereno e gesto simples — o silêncio respeitoso logo se transformou em aplausos, lágrimas e orações. Enquadrei, ajustei a lente, cliquei. Mas a sensação era de que nenhuma foto daria conta da grandiosidade daquele momento. A fé não se enquadra. A fé transborda.


Hoje, com a notícia da morte de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, aos 88 anos, essas lembranças voltam com força. Ele foi um líder religioso que ousou ser humano, que chamou atenção para os pobres, que pediu simplicidade e misericórdia. Um papa que beijou os pés de prisioneiros, que abraçou refugiados, que disse "quem sou eu para julgar?" e que pediu uma Igreja de portas abertas.

Fotografá-lo naquele 24 de julho foi, para mim, mais do que cumprir uma pauta jornalística. Foi presenciar um acontecimento que, agora, ganha ainda mais peso histórico. As fotos que fiz naquele dia permanecem, mas o que guardo com mais nitidez é o que senti: o privilégio de ter estado ali, testemunhando um momento de comunhão entre um povo e um líder espiritual que marcou seu tempo.


O Papa Francisco se despede do mundo deixando um legado de coragem, ternura e compaixão. E eu, com minha câmera, pude registrar um pequeno fragmento disso.


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