Monique Top Reis: a rainha do samba que Taubaté esqueceu, mas o Rio abraçou
Como diz o samba: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.” Monique fez sua hora e, enquanto Taubaté dorme, o Rio de Janeiro aplaude.
Por décadas, o Carnaval foi palco de histórias grandiosas, mas poucas tão emblemáticas e desafiadoras quanto a de Monique “Top” Reis. Primeira mulher trans a fundar uma escola de samba no Brasil, Monique é presidenta da GRCES Imperatriz do Morro, de Taubaté, e hoje, paradoxalmente, sua luta pelo samba ganhou os holofotes nacionais longe de sua cidade natal, através de uma homenagem histórica na Paraíso do Tuiuti, no Rio de Janeiro.
No noticiário nacional, estampado no RJ TV da Rede Globo, Monique brilhou como uma figura combativa do carnaval brasileiro, reverenciada pela escola carioca. Um reconhecimento que contrasta com a apatia de sua própria cidade, Taubaté, que insiste em ignorar seus filhos ilustres — uma tradição quase tão antiga quanto os becos tortuosos de sua história política.
Uma trajetória de luta e resistência
Monique Reis não é apenas uma sambista. Ela é uma guerreira que enfrentou preconceitos sociais e institucionais, levantando a bandeira da cultura popular em um município que frequentemente trata a arte e os artistas como ornamentos dispensáveis. Fundar a Imperatriz do Morro foi um ato revolucionário, rompendo barreiras e desafiando uma sociedade ainda relutante em reconhecer mulheres trans como protagonistas culturais.
E o que Taubaté fez? Quase nada. Enquanto a cidade parece trancada no "jogo do caxangá" político, Monique segue defendendo o samba como patrimônio, recebendo aplausos calorosos em terras cariocas.
A glória no Paraíso do Tuiuti
A homenagem na Paraíso do Tuiuti não foi apenas uma celebração da trajetória de Monique, mas uma resposta sonora à negligência de sua terra natal. A escola, conhecida por seus enredos que defendem causas sociais e temas polêmicos, mostrou que o samba é também um instrumento de justiça histórica. Monique foi celebrada como símbolo de resistência, talento e amor pela cultura popular.
O carnaval que Taubaté insiste em ignorar
Taubaté, com sua rica história e tradições carnavalescas, continua a virar as costas para figuras que dão vida à cultura local. Monique Reis, com todo o brilho e reconhecimento que merece, simboliza a luta de artistas que encontram mais apoio e visibilidade fora de seus próprios quintais.
Mas será que ainda há tempo para a Câmara Municipal e as instituições culturais locais se redimirem? Uma moção de aplauso, um reconhecimento oficial, um monumento simbólico — qualquer gesto seria pouco para reparar anos de descaso.
Monique é mais que samba, é história viva
Monique Top Reis não precisa do aval de Taubaté para ser grande. Sua trajetória já está gravada na história do Carnaval brasileiro, e seu brilho ecoa nas passarelas do samba e nas homenagens recebidas de gigantes como a Paraíso do Tuiuti.
Resta agora saber se Taubaté aprenderá a valorizar aqueles que, como Monique, fazem do Carnaval não apenas uma festa, mas uma trincheira de resistência cultural. Afinal, como diz o samba: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.” Monique fez sua hora e, enquanto Taubaté dorme, o Rio de Janeiro aplaude.