No coração do Vale do Paraíba, em Taubaté, nasceu em 8 de julho de 1928 uma voz que logo conquistaria não apenas sua cidade natal, mas todo o estado de São Paulo e além. Filha de João Domingos Manara e Maria Pires, Jacyra Manara parecia predestinada a brilhar nos palcos desde criança.

Aos 16 anos, em 1944, seu talento natural para o canto a levou a participar do prestigioso concurso "A Mais Bela Voz de São Paulo", promovido pela Rádio Tupi Emissoras Associadas. Em meio a centenas de concorrentes, a jovem taubateana não só se destacou, como emergiu como vencedora, recebendo o título de dona da "mais bela voz do Estado de São Paulo".

Jacyra Manara recebendo a faixa de A Mais Bela Voz do Estado de São Paulo - 1944

Esse triunfo transformou Jacyra em uma sensação nacional. A imprensa não economizou nos elogios, batizando-a com apelidos como "Uirapuru do Vale do Paraíba", "A Voz Cristal de Taubaté" e "O Rouxinol de Taubaté". Seu talento logo a colocou no elenco da Rádio Tupi, catapultando-a para uma carreira que a levaria a se apresentar nos mais renomados palcos do país, desde o Cassino da Urca, no Rio de Janeiro, até o Pampulha, em Belo Horizonte. Jacyra Manara conquistava públicos em todos os cantos do Brasil com suas interpretações impecáveis e sua presença de palco inegável.

Em Taubaté, sua cidade natal, Jacyra também brilhou intensamente. Foi contratada pela Rádio Difusora de Taubaté e deslumbrou plateias no Theatro Politeama, no Taubaté Country Club e nos salões de eventos da CTI. Suas apresentações se tornaram lendárias, e sua voz era frequentemente elogiada por figuras de destaque, como o poeta Menotti Del Picchia e a soprano Violeta Coelho Neto, que admiravam seu domínio de palco e a pureza de sua voz. Não demorou para que Jacyra Manara fosse comparada à grande estrela de Hollywood, Deanna Durbin, sendo apelidada como a "Deanna Durbin brasileira".

Jacyra Manara no Cassino da Urca - Rio de Janeiro - 1945

No entanto, a trajetória promissora de Jacyra foi interrompida de forma abrupta e precoce. Aos 19 anos, por pressão de seu pai, Domingos Manara, ela abandonou a carreira artística para se dedicar à vida de professora. Passou a lecionar canto e inglês em diversas escolas, tanto em Caraguatatuba quanto em Taubaté, incluindo o renomado Colégio Lopes Chaves. Seu talento para o canto, que outrora encantara multidões, foi reservado apenas para casamentos, festas escolares e eventos beneficentes.

Jacyra Manara viveu uma vida longe dos holofotes, mas nunca foi esquecida por aqueles que tiveram o privilégio de ouvi-la cantar. Casou-se com Casimiro Nardi em 26 de abril de 1952, e juntos tiveram uma filha, Rosana. Em 4 de julho de 2001, aos 72 anos, Jacyra Manara faleceu no Hospital Santa Isabel de Clínicas, em Taubaté. Sua partida silenciosa foi lamentada pela poetisa e jornalista Lygia Fumagalli Ambrogi, que escreveu para o Diário de Taubaté: "No mês de julho, em uma madrugada silenciosa, Jacyra Manara dormiu um sono profundo e, no sonho que sonhou, foi cantar em outra dimensão. A memória de Taubaté, raquítica e frágil, não atendeu para nada, não atinou e não sentiu o seu próprio passado."

Hoje, ao relembrarmos a história de Jacyra Manara Nardi, somos convidados a refletir sobre a importância de preservar e celebrar as memórias daqueles que, com seus talentos, enriqueceram a cultura e a história de nossa nação. Salve Jacyra Manara, uma voz que nunca deveria ser esquecida.

Jacyra Manara, a grande cantora de nossa terra, é o tema do filme documentário "Jacyra Manara", contemplado pela Lei Paulo Gustavo – Audiovisual/Taubaté, com direção de Dimas Oliveira Junior, produção de Rafael Prando e contando com a participação dos atores taubateanos: Manuela Brigagão, Mateus Peixoto, Joel Crosariol. Estreia em 2024.