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De Machado a Lobato: como a televisão deu vida eterna aos nossos clássicos

Enquanto na Europa grandes autores são reverenciados e celebrados, aqui, tristemente, vemos críticas rasas e desinformadas à nossa produção cultural

Dimas Oliveira Junior | Data: 25/04/2025 14:46

Em tempos difíceis para a cultura brasileira, é urgente refletirmos sobre a importância de levar a literatura para os jovens. Nosso país, que deveria se orgulhar de ser berço de nomes imortais como Machado de Assis, José de Alencar, Cecília Meireles, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade e Monteiro Lobato, assiste com pesar ao esquecimento de suas raízes literárias. Um verdadeiro tesouro cultural está sendo soterrado pela indiferença e pelo desconhecimento.

Enquanto na Europa grandes autores são reverenciados e celebrados, aqui, tristemente, vemos críticas rasas e desinformadas à nossa produção cultural — uma prática tão comum quanto lamentável. É doloroso ver o Brasil, que poderia ser um verdadeiro oásis literário, seguir no caminho oposto.

No entanto, é preciso reconhecer e celebrar iniciativas que, ao longo das décadas, resistiram a esse apagamento. Hoje, é justo parabenizar a TV Globo pelos seus 60 anos de existência e, sobretudo, pela sua histórica contribuição na preservação e popularização da literatura brasileira.

Ainda que não tenha sido a primeira emissora a adaptar obras literárias para a televisão, a Globo foi, sem dúvida, quem abriu novos horizontes para a literatura televisiva, com uma linguagem acessível e através de elencos de raro talento. Foi com a estreia da novela Helena, em 1975 — adaptação do romance de Machado de Assis, estrelada por Lúcia Alves — que a emissora inaugurou o horário das 18h dedicado às adaptações literárias e novelas de época. O sucesso foi imediato e deu origem a uma série de produções marcantes.

Vieram, logo em seguida, adaptações memoráveis como Senhora (José de Alencar, 1975), com Norma Blum; A Moreninha (Joaquim Manuel de Macedo, 1976), com Nívea Maria; O Noviço (Martins Pena, 1975), com Pedro Paulo Rangel; O Feijão e o Sonho (Orígenes Lessa, 1976); e Vejo a Lua no Céu (Marques Rebelo, 1976), com Norma Blum. Cada uma dessas produções trouxe a literatura nacional para dentro dos lares brasileiros, formando gerações de leitores e admiradores de nossa cultura.

E como não lembrar de Escrava Isaura (1976-1977), inspirada no romance homônimo de Bernardo Guimarães, com a atriz Lucélia Santos? A novela se tornou um fenômeno mundial, sendo exibida em mais de 80 países e alcançando recordes de audiência históricos — uma vitória sem precedentes da literatura nacional adaptada para a televisão.

A popularização da literatura infantil também encontrou na TV Globo uma aliada poderosa com a produção do Sítio do Picapau Amarelo (1977-1986), em parceria com a TVE Brasil e o Ministério da Educação e Cultura. A obra de Monteiro Lobato ganhou vida em uma produção que bateu recordes de audiência e ficou eternizada na memória afetiva de milhões de brasileiros.

Além disso, a Globo também adaptou para a televisão obras fundamentais de autores como Jorge Amado (Gabriela, Terras do Sem-Fim, Tenda dos Milagres), Lygia Fagundes Telles (Ciranda de Pedra) e Maria José Dupré (Éramos Seis), reafirmando seu compromisso com a literatura nacional.

Num país onde o incentivo à leitura se torna cada vez mais raro, o trabalho da TV Globo merece ser celebrado. Foi através dessas novelas e séries que muitos brasileiros tiveram seu primeiro contato com grandes nomes da literatura, despertando a curiosidade e o amor pelos livros. A arte tem o poder de transformar e, nesse sentido, a televisão, quando bem utilizada, é uma ferramenta de formação e de preservação cultural.

Que o exemplo inspire novas gerações e novas iniciativas. Que a literatura brasileira volte a ocupar o lugar de honra que merece em nossa sociedade — não como uma memória esquecida, mas como um patrimônio vivo, pulsante e essencial para nossa identidade.


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