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Cid Moreira: adeus ao maior patrimônio do jornalismo brasileiro

Cid não era apenas uma voz inconfundível, mas um símbolo de credibilidade, de respeito e de uma era em que o jornalismo televisivo alcançou

Dimas Oliveira Junior | Data: 03/10/2024 10:19

Recebi com uma tristeza profunda a notícia do falecimento de Cid Moreira, aos 97 anos. Para mim, assim como para milhões de brasileiros, Cid não era apenas uma voz inconfundível, mas um símbolo de credibilidade, de respeito e de uma era em que o jornalismo televisivo alcançou um patamar de excelência que talvez nunca mais vejamos.

Tive o privilégio, uma honra pessoal, de entrevistar Cid para a Rádio Cacique de Taubaté, em sua cidade natal. Naquela conversa, ele relembrou com carinho suas primeiras experiências no rádio, os dias na Rádio Difusora de Taubaté, onde tudo começou, e a jornada que o levou a ser o nome mais icônico do jornalismo brasileiro. Ouvindo-o falar, percebi como Taubaté, terra de tantos talentos como Lobato, foi um berço de suas aspirações. Embora nossa cidade não o tenha celebrado como deveria, o legado de Cid transcende fronteiras.


Nascido em 1927, Cid Moreira foi descoberto por um amigo em 1944, que, ao reconhecer seu talento inato para a locução, incentivou-o a fazer um teste na Rádio Difusora de Taubaté. De lá, sua trajetória foi uma ascensão brilhante, passando por grandes emissoras de São Paulo e Rio de Janeiro. Na TV Rio, nos anos 50, fez suas primeiras aparições em frente às câmeras, apresentando programas e comerciais ao vivo, sem imaginar que, anos depois, seu rosto e voz seriam conhecidos em todos os lares brasileiros.

Quando penso no impacto que ele causou ao entrar para o Jornal Nacional, em 1969, substituindo Luís Jatobá, me vem à mente aquela noite histórica em que o JN foi ao ar pela primeira vez em rede nacional. Cid dividiu a bancada com Hilton Gomes, e logo depois começou sua parceria icônica com Sérgio Chapelin. Durante 26 anos, o "boa-noite" de Cid Moreira se tornou um ritual diário na vida de milhões. Sua presença era mais que um hábito, era uma garantia de que a informação chegaria de forma clara e confiável.


Cid foi muito mais do que um âncora de telejornal. Quem poderia esquecer sua narração inigualável dos salmos bíblicos? O projeto que culminou na gravação da Bíblia na íntegra foi uma demonstração de sua fé e de sua paixão pela comunicação. Até mesmo o lado descontraído de sua carreira, como a famosa vinheta "Jabulaaani!" durante a Copa do Mundo de 2010, mostrou que ele sabia se reinventar e se manter relevante em todas as fases de sua vida profissional.

Ao refletir sobre sua trajetória, me emociono em pensar que nossa querida Taubaté, que tantas vezes negligencia seus filhos ilustres, foi o palco inicial da carreira de um dos maiores nomes da comunicação nacional. Cid Moreira, com sua voz imortal, não será esquecido. Ele deixou um legado que atravessa gerações e que, certamente, continuará inspirando futuros jornalistas, locutores e comunicadores.

Adeus, Cid. Seu "boa-noite" ecoará para sempre em nossas memórias. Que descanse em paz.

Aqui está o link da entrevista com Cid Moreira, realizada na Rádio Cacique Taubaté, com a colaboração do escritor e filósofo Douglas Jefferson.

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