Diário

Araras do Parque Três Pescadores, de Aparecida, são levadas para repovoar floresta, no Rio de Janeiro

As aves, extintas na capital fluminense há mais de 200 anos, fazem parte de um projeto de reintrodução da espécie no Parque Nacional da Tijuca

Sarah Molica | Data: 27/06/2025 14:57

No início do mês de junho a população do Rio de Janeiro foi surpreendida com uma notícia especial: depois de 200 anos, a principal floresta da cidade voltou a receber as araras-canindé, também conhecidas como arara-azul-amarela. As aves, um macho e três fêmeas, fazem parte de um projeto de reintrodução da espécie no Parque Nacional da Tijuca, conduzido pela ONG Refauna, com apoio do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).

A ação só foi possível graças ao trabalho realizado pelo Refúgio das Aves, do Parque Três Pescadores, um projeto ambiental que integra o complexo de visitação do Santuário Nacional de Aparecida, no interior de São Paulo. Durante um ano, o local foi o lar das araras, que foram resgatadas por órgãos ambientais, em operações contra o tráfico de animais ou em cativeiros ilegais.

O macho, apelidado de Selton, e uma das fêmeas, chamada de Fernanda, em homenagem aos atores Selton Mello e Fernanda Torres, astros do filme “Ainda estou aqui”, vieram do CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres), da cidade de Araras-SP. Já as outras duas fêmeas, chamadas de Fátima e Sueli, inspiradas nas personagens da série de TV “Entre Tapas e Beijos”, são oriundas do projeto Mata Ciliar, de Jundiaí-SP.

No Refúgio das Aves, os animais foram tratados, examinados, monitorados e receberam acompanhamento de biólogo e veterinário especializados, com o objetivo de torná-los aptos para o retorno à natureza. E a oportunidade surgiu graças ao projeto Refauna, que já havia introduzido na floresta da Tijuca, espécies como cutias, antas, jabutis e bugios.

“Desde 2019, o Refauna buscava aves aptas para serem soltas no local, mas para isso era preciso que elas atendessem a uma série de requisitos sanitários e comportamentais, para esse processo. E graças ao trabalho realizado pelo nosso time técnico, nossas araras estavam prontas para essa missão de repovoar a floresta da Tijuca”, disse Juliana Fernandes, bióloga do Parque.

As quatro araras-canindé saíram de Aparecida no último dia 6 de junho e agora passam por um período de aclimatação em um viveiro instalado dentro do Parque da Tijuca. A soltura definitiva deve ocorrer entre 4 e 6 meses. Após esse período, as aves serão monitoradas por radiotransmissores e anilhas coloridas. A última presença registrada da espécie em vida livre no Rio de Janeiro ocorreu em 1818.

Além de sua beleza única, com as cores marcantes da bandeira nacional, as araras-canindé têm papel essencial na dispersão de sementes, contribuindo para a regeneração da mata atlântica e contribuindo com o funcionamento do ecossistema. Nos primeiros dias, elas serão alimentadas com frutas e ração, mas aos poucos serão incentivadas a consumir os frutos nativos. Ninhos artificiais também foram colocados no viveiro para auxiliar na adaptação.

“No mês de julho, o Parque Três Pescadores completará seu primeiro ano de funcionamento e a gente fica muito feliz em celebrar esse marco dando esse presente para o meio ambiente. Uma confirmação de que nosso trabalho de acolhimento e tratamento desses animais, está gerando resultados importantes”, celebrou Fernando Ramos, gerente do Parque.



Novos moradores
As araras-canindé enviadas para o Rio de Janeiro serão os primeiros animais reintroduzidos na natureza, oriundos do Refúgio das Aves, do Parque Três Pescadores, de Aparecida. Mas antes disso, o projeto já havia registrado resultados importantes com o trabalho de acolhimento de animais silvestres, com os nascimentos dos primeiros filhotes de espécies que estão em reabilitação no local, inaugurado em julho de 2024. 
Os novos moradores do Parque são sete pombas silvestres, da espécie asa-branca, que nasceram entre novembro do ano passado e abril deste ano, e dois filhotes de maritacas do gênero psittacara, que nasceram em janeiro.
“Esses nascimentos comprovam que nosso trabalho de reabilitação e reconstituição do habitat natural está sendo bem sucedido e cumprindo com o objetivo principal de acolher, tratar, cuidar, reabilitar e reintroduzir os animais na natureza”, destacou Juliana Fernandes, bióloga do Parque.
Os filhotes das maritacas foram fruto de uma relação que começou no próprio Refúgio, pois vieram de CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres) diferentes. Já os casais de pombas, chegaram ao local juntos e provavelmente já tinham conexão. 
Além desses animais que se reproduziram, existem outros animais já pareados e seguem preparando ninhos e pondo ovos, que ainda não eclodiram, como um casal de arara-canindé, que também se conheceu dentro do aviário, e um outro casal de periquitão maracanã deficientes, apelidados carinhosamente de "Biquinho" e "Toquinha", em que um é deficiente de uma das patas e o outro da parte superior do bico, isso devido aos maus-tratos sofridos. 
A novidade foi recebida com muito entusiasmo pela equipe de profissionais que atua no projeto. Atualmente todos os mais de 135 animais, de 27 espécies diferentes, presentes no espaço são oriundos de apreensões do tráfico, acidentes ou entregas voluntárias, e muitos chegam debilitados, feridos e com a saúde frágil.
“O trabalho de reabilitação realizado no Refúgio das Aves é uma ferramenta poderosa para a conservação da biodiversidade, para evitar a extinção destas espécies e das interações ecológicas na natureza. Com isso conseguimos manter populações backup, viáveis e com capacidade de serem enviadas de volta para a natureza”, explicou a bióloga.
As pombas-asa-branca (Patagioenas picazuro) são originárias do leste do Brasil, e podem ser encontradas desde o Pernambuco até a Bolívia, além de também habitarem a região sul e central da Argentina. Já o periquito-maracanã ou maritacas (Psittacara leucophthalmus), estão presentes na Argentina, Brasil, Bolívia, Guianas, Paraguai, Venezuela e Uruguai.



Área de Preservação Permanente 
Abrigando uma Área de Preservação Permanente (APP), às margens do Rio Paraíba do Sul, o Parque já plantou mais de 430 árvores desde o início das operações, com o objetivo de restaurar o espaço e preservar o ecossistema da região. Foram cerca de 180 mudas de espécies nativas inseridas na APP, além de mais 260 unidades, nativas e de paisagismo, plantadas em outros locais do empreendimento, que possui 30 mil metros quadrados. 
Toda essa riqueza natural pode ser apreciada pelos visitantes do Parque ao percorrerem o Percurso Ecológico, que apresenta informações detalhadas da fauna e flora locais, além de reforçar a importância da preservação do meio ambiente para a garantia de um futuro mais sustentável para todos.

Refúgio das Aves do Parque Três Pescadores em Aparecida acolhe animais resgatados de maus-tratos e tráfico
O tráfico de animais silvestres é um negócio criminoso, que infelizmente movimenta cerca de US$ 2 bilhões por ano. A estimativa é que, somente no Brasil, 38 milhões de animais silvestres são retirados ilegalmente da natureza todos os anos, os dados e estatísticas são da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), uma Organização Social Civil de Interesse Público (OSCIP).
Diante desse preocupante cenário, o Refúgio das Aves, do Parque Três Pescadores, em Aparecida (São Paulo), pode ser considerado um oásis em meio à degradação do meio ambiente, principalmente da fauna. Atualmente com mais de 130 animais em recuperação para retorno ao seu habitat natural, e com capacidade para ampliar o atendimento para cerca de 300, o local é um dos poucos na região do Vale do Paraíba, que recebe animais apreendidos por maus-tratos ou vítimas do tráfico de animais silvestres.
O espaço é dedicado à recuperação e proteção de espécies brasileiras e recebe animais de Centros de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), e de excedentes de zoológicos de todo o país. 
Ao chegarem no local, eles passam por triagem, são avaliados, recebem tratamento veterinário e ficam em quarentena, para depois serem manejados para área de convívio e visitação. Após esse período de tratamento, aclimatação, avaliação comportamental, os animais triados e treinados para serem reintroduzidos na natureza, em programas de refaunação ou reforço populacional.
Entre as espécies acolhidas no Refúgio, temos iguanas, jabutis, marreco, araras, papagaios, maritacas, periquitos, pombas, corujas, garças, tucanos, siriemas, cágados, socó-boi, curicaca, savacu e cutias.
Além do acolhimento dos animais, o Parque também promove a sensibilização ambiental através de programas educativos, e oferece áreas acadêmicas para pesquisa, estágios e programas de extensão em colaboração com universidades da região. “Isso fortalece a ligação entre conservação prática e conhecimento científico, criando um ambiente de aprendizado contínuo para estudantes e pesquisadores”, destacou Juliana Fernandes de Souza, bióloga do empreendimento.



Parque Três Pescadores

Unindo fé, história e conservação ambiental, o Parque Três Pescadores, em Aparecida, no interior de São Paulo, amplia a experiência dos devotos que visitam a terra da Padroeira do Brasil.

O novo atrativo, que ocupa uma área de quase 30 mil m², foi construído às margens do Rio Paraíba do Sul e ao lado de um dos mais importantes pontos de peregrinação da cidade, o Porto do Itaguaçu, local onde, em 1717, foi encontrada a imagem de Nossa Senhora Aparecida. A área, reinaugurada para o público em junho, passou por uma revitalização, que incluiu melhorias paisagísticas e a ampliação da Capela em homenagem ao acontecimento histórico.

Além de possibilitar um passeio de balsa pelo exato local em que a imagem foi encontrada, o Parque ainda abriga uma réplica da Vila dos Pescadores, que acolheu os primeiros devotos da Santa, um Percurso Ecológico ilustrado por painéis que apresentam os primeiros milagres atribuídos à imagem e um Refúgio de Aves, que abriga espécies ameaçadas da fauna nacional.

 

Serviço - Parque Três Pescadores

Consulte horários de funcionamento e valores de ingressos com:

atendimento@parquetrespescadores.com.br

(12) 99759-1333 (WhatsApp)

www.parquetrespescadores.com.br/

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