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Ubatuba se fecha para o Turismo e Abre Espaço para a Polêmica

Tenda proibida, taxa reajustada, trânsito caótico… Ubatuba parece mais empenhada em afastar turistas do que em recebê-los. Enquanto isso, quem busca conforto e acolhimento começa a olhar para outros destinos.

Guilherme Belisqui | Data: 05/05/2025 11:56

Ubatuba, com suas mais de 100 praias distribuídas entre montanhas e Mata Atlântica preservada, é um dos destinos turísticos mais cobiçados do litoral paulista. No entanto, a cidade tem tomado uma série de medidas que, à primeira vista, parecem caminhar na contramão do incentivo ao turismo. O curioso é que, apesar disso, os visitantes continuam a chegar em massa — mesmo enfrentando barreiras práticas e simbólicas.

A medida mais recente veio da Câmara Municipal, que aprovou um projeto de lei para proibir o uso de tendas e barracas nas praias de Ubatuba. O texto ainda depende da sanção do Executivo para entrar em vigor, mas já gerou ampla repercussão. O argumento central dos autores é o de preservar o espaço público e coibir abusos por parte de grupos que ocupam grandes áreas da faixa de areia, prejudicando a circulação de outros banhistas e o ordenamento do ambiente, porém para os visitantes com idosos e crianças essa ação vira uma dificuldade.

Além disso, a cidade também atualizou o valor da Taxa de Preservação Ambiental (TPA), cobrada de todos os veículos que entram em Ubatuba. A taxa, instituída com o objetivo de financiar ações de sustentabilidade e mitigação dos impactos ambientais do turismo, foi reajustada em 5,59% no início de 2025. O que para alguns representa um avanço na proteção ambiental, para outros soa como mais uma barreira econômica imposta aos turistas.

Como se não bastassem as regras e cobranças, Ubatuba também tem sido palco de colapsos logísticos. No feriado de abril, a cidade viveu um verdadeiro caos com congestionamentos recordes: turistas levaram mais de 12 horas para sair da cidade e seguir viagem. A situação foi agravada por interdições na Rodovia Oswaldo Cruz e pela falta de planejamento diante do volume de veículos. Quem estava de férias terminou refém do tráfego e da desorganização.

Todos esses fatores — proibição de tendas, cobrança de taxas, dificuldade de acesso e saída — se somam a uma sensação crescente de que o turista, ao invés de ser bem-vindo, é um problema a ser gerenciado. O discurso oficial foca em preservação e organização, o que é importante. Mas, na prática, falta acolhimento, estrutura e transparência. Em vez de tornar Ubatuba mais sustentável, a gestão pública tem colocado o destino no centro de polêmicas que afastam justamente quem mantém a economia local girando: o visitante.

É claro que o turismo precisa ser regulado, principalmente em áreas de fragilidade ambiental. Mas há uma linha tênue entre organizar e restringir, entre preservar e afastar. Ubatuba parece flertar com essa linha o tempo todo. E mais: parece esquecer que quem paga taxas, respeita regras e viaja por horas para chegar ali, também merece respeito e boas condições de lazer.

Falo como cidadão e consumidor: tenho repensado minhas opções de destino. Viajar para um lugar onde sou tratado como um incômodo, onde cada passo parece uma infração e cada conforto é proibido, não faz sentido. Prefiro investir meu dinheiro em cidades onde o visitante é acolhido, não punido. Onde o turismo é gerido com inteligência, não com austeridade desconectada da realidade. É hora de Ubatuba decidir: quer turistas ou só tolerá-los?

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