Índia, Paquistão e a tensão que compromete o Himalaia
Caxemira volta ao centro da crise entre Nova Délhi e Islamabad em meio a ameaças diplomáticas e movimentações militares
As tensões entre Índia e Paquistão tiveram marco em 1947, quando o fim do domínio britânico na Índia resultou na criação de dois Estados independentes: a Índia, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria muçulmana.
A região da Caxemira tornou-se o principal foco da disputa. Embora de maioria muçulmana, o então marajá da Caxemira optou por integrar-se à Índia, desencadeando a Primeira Guerra Indo-Paquistanesa (1947–1948). Desde então, as duas nações travaram outras duas guerras convencionais (1965 e 1971), além de inúmeros confrontos de menor escala, principalmente ao longo da fronteira entre os dois países.
A questão caxemira se tornou uma questão crucial do conflito entre potências nucleares, o que faz da região do Himalaia um dos pontos de maior risco do mundo.
Em abril desde ano, o equilíbrio entre os países sofreu forte abalo após um ataque terrorista na cidade de Pahalgam, no território indiano de Jammu e Caxemira. O atentado vitimou 26 turistas e feriu dezenas de civis, teve a autoria assumida pelo grupo TRF (The Resistance Front), organização associada a um grupo extremista com base no Paquistão.
O governo de Nova Délhi respondeu acusando o Paquistão de continuar apoiando o terrorismo transfronteiriço e adotou medidas duras como o cancelamento de vistos para cidadãos paquistaneses a expulsão de diplomatas paquistaneses, com retirada simultânea da representação diplomática indiana em Islamabad;
O Paquistão, por sua vez, nega qualquer envolvimento no atentado e propôs uma investigação internacional independente. O governo de Islamabad também adotou contramedidas, incluindo o fechamento de seu espaço aéreo a aeronaves indianas, a suspensão de vistos e o alerta de que qualquer ação que interfira nos fluxos dos rios compartilhados seria tratada como "ato de guerra".
A crise já aponta confrontos armados localizados, com uso de artilharia e movimentação de tropas. Há risco real de que a escalada ultrapasse a fronteira simbólica dos incidentes e caminhe para um confronto de maior escala — o que, em se tratando de duas potências nucleares, tem implicações graves para toda a comunidade internacional.
A nova escalada entre Índia e Paquistão expõe não apenas a fragilidade do processo de paz na Caxemira, mas também a perigosa normalização da violência em uma das regiões mais militarizadas do planeta. A repetição cíclica de atentados, retaliações e rupturas diplomáticas mostra que, sem um esforço estrutural e internacional de mediação, o conflito permanecerá como uma ferida aberta.
Mais do que um problema bilateral, trata-se de uma questão que afeta a segurança internacional, o direito dos povos à autodeterminação, a sustentabilidade ambiental e o próprio equilíbrio do sistema de tratados multilaterais.