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“Deu no The New York Times...”

Nos últimos anos, o Brasil tem sido involuntariamente palco de uma estratégia sofisticada de espionagem conduzida por agentes russos. Utilizando identidades falsas emitidas em território nacional, esses espiões infiltram-se em países europeus e nos Estados Unidos, contornando os sistemas de segurança de fronteira por meio da aquisição de documentos brasileiros válidos.

Felipe Mazzuia | Data: 22/05/2025 11:34

Nos últimos anos, o Brasil tem sido involuntariamente palco de uma estratégia sofisticada de espionagem conduzida por agentes russos. Utilizando identidades falsas emitidas em território nacional, esses espiões infiltram-se em países europeus e nos Estados Unidos, contornando os sistemas de segurança de fronteira por meio da aquisição de documentos brasileiros válidos. Tal estratégia coloca em xeque não apenas a segurança internacional, mas também a robustez do sistema de registros civis brasileiro.

Uma operação da Polícia Federal, iniciada há três anos, investigou os mecanismos do esquema da “fábrica de espiões” no país. Os detalhes do caso foram revelados pelo jornal americano The New York Times.

A investigação desencadeou após o caso de Sergey Vladimirovitch Cherkasov, agente do GRU (serviço de inteligência militar da Rússia), que viveu por cerca de 12 anos no Brasil sob o nome falso de Victor Muller Ferreira. Com documentos autênticos emitidos com base em informações fraudulentas, ele estudou nos Estados Unidos e foi aceito como estagiário no Tribunal Penal Internacional, na Holanda. Investigado pela CIA, foi detido assim que chegou aos Países Baixos e  deportado ao Brasil, onde cumpre pena de 15 anos de reclusão. A Rússia já pediu sua extradição mais de uma vez, alegando até tratar-se de perigoso traficante internacional de metanfetamina. 

O STF autorizou a deportação de Sergey, mas está condicionada ao fim das investigações da polícia contra ele. 

Além de Sergey, outros 8 agentes secretos russos foram identificados e fugiram, mas tiveram seus disfarces expostos à comunidade internacional 

Mas Por que o Brasil?

O passaporte brasileiro, é considerado um dos mais valiosos do mundo, a diversidade étnica da população brasileira torna mais plausível a criação de identidades fictícias que não chamam atenção em outras partes do mundo. Além disso, não é necessário visto para entrada em diversos países.

Assim, os agentes entravam no Brasil com passaporte russo, e assumiam identidades de outras pessoas, em sua maioria já mortas e registradas em cartórios do interior do país. Com os documentos de brasileiro era só repetir a história de sua origem inventada e dar um novo passo. 

Os russos não solicitavam os passaportes em solo brasileiro, pois, aqui quem emite o documento é a polícia federal, onde estariam eles expostos a um maior rigor e checagem de documentos e da própria história - elas era tão fracas que certamente um policial desconfiaria. 

Diante deste cenário, viajavam ao exterior e pediam o passaporte na embaixada local, o que os tira do ambiente policial para um ambiente diplomático.

A descoberta desses agentes estrangeiros expõe o Brasil a riscos diplomáticos e de segurança nacional, passando a impressão de fragilidade no controle de emissão de passaportes. 

Os infiltrados utilizavam-se de registros civis antigos e que eram baseados em declarações orais e sem a exigência de documentação comprobatória. Há também suspeitas de corrupção em cartórios para a autenticação de informações falsas, o que facilitou a obtenção de certidões, CPFs e passaportes válidos.

Certamente a Rússia não e o único país a utilizar do Brasil como base de operações clandestinas, mas, a preocupação que se expõe é a de grupos terroristas e paramilitares, a rota do tráfico de armas e drogas – que pode financiar esses movimentos – aliado à facilidade de obter-se uma nova identidade faz com que pensemos em uma imediata sofisticação da inteligência e fortalecimento institucional e tecnológico dos mecanismos de identificação civil brasileiros. 

PS: espero que seu gosto musical tenha lhe dado a referência do título

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