Você pode estar estranhando, mas é real: o inglês não era oficialmente declarado como o idioma dos Estados Unidos. Aqui no Brasil, por exemplo, a língua portuguesa é reconhecida como idioma oficial da República no artigo 13 da Constituição Federal.

Em 1º de março, o presidente americano assinou uma ordem executiva estabelecendo o inglês como a língua oficial dos Estados Unidos.

O ex-presidente americano Bill Clinton, em 2000, havia assinado um decreto que garantia o acesso a serviços públicos essenciais, como saúde, justiça e educação, para pessoas com limitações no idioma inglês, ou seja, com documentos traduzidos e atendimentos na língua do habitante.

O governo Clinton justificava a medida com base na Lei dos Direitos Civis, que proíbe a discriminação com base na nacionalidade por parte de programas e entidades que recebem financiamento federal. Assim, a língua tornava-se uma barreira para que habitantes não fluentes em inglês nos Estados Unidos tivessem acesso ao que chamamos de direitos fundamentais. O que acabou com o decreto de 2000.

De 2000 até hoje a medida foi mantida por presidentes do partido republicano, como George W. Bush e do democrata Obama e Biden, pois é, uma política de Estado e não de governo.

Trump ao decretar o inglês como língua oficial revogou a ordem de Clinton. Isso coloca novamente uma barreira ao acesso a serviços fundamentais para comunidades que não falam inglês, os deixando a margem da sociedade americana.

Estima-se que cerca de 13% da população dos Estados Unidos fale espanhol, o que representa quase 45 milhões de pessoas. Ou seja, é como se 27 milhões de habitantes brasileiros não falassem português. Parece evidente que políticas públicas devem ser implementadas para atender essas pessoas.

O decreto representa um retrocesso. Pequenas decisões como essa, que passam despercebidas aos olhos do mundo, são, a meu ver, piores do que a supertaxação, por exemplo.

O que o governo faz é instaurar um regime de segregação linguística. A política de segregação contra imigrantes ganha mais um capítulo. Trump se esquece, ou talvez nem saiba, que, assim como o Brasil, os Estados Unidos foram construídos por imigrantes — entre eles, seus próprios avós.