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Bastidores de uma cobertura delicada

Relato de Marcelo Caltabiano mostra como a presença da imprensa foi usada na negociação com o criminoso

Marcelo Caltabiano | Data: 19/06/2025 19:50

Na tarde desta quinta-feira, 19 de junho, recebi uma mensagem de um amigo e colaborador do T7 News. Ele informava sobre uma ocorrência grave: uma mulher estava sendo feita refém dentro de uma lanchonete na Rodoviária Nova de Taubaté. Peguei meus equipamentos e fui imediatamente para o local.

Assim que cheguei, posicionei-me do lado de fora da linha de contenção montada pela Polícia Militar e comecei a fotografar. A tensão era visível, os agentes atuavam com cautela, e a área havia sido isolada. O homem, armado com uma faca, mantinha uma comerciante sob ameaça havia mais de uma hora.


Ainda do lado de fora, notei uma cena que me marcou profundamente: o marido da vítima, sentado ao chão, visivelmente abalado. Ele não estava sozinho — era amparado por familiares, todos em desespero, acompanhando a negociação sem saber como aquilo terminaria. A dor daquela família, diante da incerteza e do medo, dava à cena um peso impossível de ignorar.


Foi nesse momento que um sargento do BAEP se aproximou e me pediu que eu ficasse à vista do criminoso. O homem havia pedido a presença da imprensa, segundo os policiais, como uma forma de garantir sua integridade física. O policial me assegurou que não havia risco iminente, pois o homem estava contido dentro do espaço e armado apenas com uma faca. Aceitei, com responsabilidade.

A partir dali, minha câmera não era apenas uma ferramenta de registro. Ela se tornou parte da própria negociação. Estar ali, visível, era uma forma de mostrar ao criminoso que sua rendição estava sendo observada, registrada. E isso, de alguma maneira, o tranquilizou.


A Polícia Militar conduziu a negociação com técnica e paciência. Segundo os policiais ouvidos pela reportagem, o homem estava transtornado, dizia frases sem sentido e não demonstrava condições de diálogo no início. Aos poucos, com o trabalho dos agentes e com o ambiente controlado, ele foi se acalmando.

Após cerca de 1h30 de tensão, o criminoso libertou a mulher. Ela não sofreu ferimentos, mas estava em estado de choque. O homem, que estava em saída temporária do sistema prisional, foi preso em flagrante. Agora, além das passagens por roubo, furto e constrangimento ilegal, ele também deve responder por cárcere privado e dano, e pode perder o benefício do regime semiaberto.


As imagens registradas pelo T7 News são exclusivas — e contam uma história em que o jornalismo, feito com seriedade, cumpriu seu papel. Não interferimos na ação policial, mas estivemos presentes, com ética e responsabilidade, cumprindo a função essencial de testemunhar.

Naquele dia, o jornalismo não apenas noticiou. Ele ajudou, com sensibilidade e profissionalismo, a preservar uma vida. E isso é algo que levarei comigo para sempre.


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